O esporte é uma ferramenta poderosa de transformação social, capaz de impactar positivamente comunidades inteiras, promover inclusão, saúde, bem como desenvolvimento pessoal.
No entanto, para que essa transformação seja efetiva e alcance mais pessoas, é essencial que o setor privado se envolva ativamente, canalizando recursos e esforços para essa área.
O esporte vai além da competição e do entretenimento. Ele desempenha um papel fundamental na construção de valores, como disciplina, trabalho em equipe, respeito e resiliência.
Em muitas comunidades, o esporte se torna um refúgio para jovens em situação de vulnerabilidade, oferecendo uma alternativa saudável e segura frente a contextos de violência e exclusão.
Além disso, ele é uma via para a inclusão social. Afinal, projetos esportivos em comunidades carentes têm mostrado resultados impressionantes na redução da criminalidade, na melhoria do desempenho escolar e na promoção de hábitos de vida saudáveis.
Contudo, o alcance dessas iniciativas ainda é limitado pela falta de recursos e infraestrutura adequada, o que impede que muitos talentos sejam descobertos e que mais vidas sejam transformadas.
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Para entender melhor como o esporte pode ter um papel de transformação social na vida das pessoas, conversamos com Dora Castanheira, ex-atleta olímpica e figura de destaque no esporte educacional.
Com uma carreira que se estende por mais de 35 anos, Dora tem dedicado sua vida ao esporte para além dos campeonatos. Depois de uma longa temporada nas quadras, se destacou como educadora e gestora de projetos sociais na área esportiva.
Dora também foi assistente técnica da seleção feminina nas Olimpíadas de Atlanta em 1996 e desempenhou um papel fundamental na organização dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Para entender melhor como o esporte pode ter um papel de transformação social na vida das pessoas, conversamos com Dora Castanheira, ex-atleta olímpica e figura de destaque no esporte educacional.
Além disso, Dora tem contribuído de forma significativa para o esporte social e educacional, coordenando núcleos do programa Esporte Cidadão, demonstrando sua crença inabalável no poder transformador do esporte na educação e no desenvolvimento humano.
“A prática esportiva foi fundamental na minha vida. Ela me levou do interior de Minas Gerais para o mundo e abriu inúmeras portas. O esporte me ensinou valores como disciplina, trabalho em equipe, e respeito, que carrego comigo até hoje”, compartilha Dora.
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Em 2024 tivemos a chance de acompanhar o Brasil conquistando uma medalha de bronze no vôlei feminino, em Paris.
Para muitos atletas, a participação nos Jogos Olímpicos é o ponto alto de suas carreiras, um sonho realizado. Dora Castanheira, que representou o Brasil no vôlei feminino nas Olimpíadas de Moscou em 1980 e Seul em 1988, descreve essa experiência como única.
“Participar dos Jogos Olímpicos é uma grande honra e uma emoção muito especial. A vida na vila olímpica é como estar no Olimpo, cercada pelos deuses do esporte”, lembra Dora.
"As histórias dos atletas são muito parecidas. Envolve muito treino, campeonatos, trabalho intenso de excelência sempre no limite do corpo, muita disciplina, lesões, vitórias e derrotas. A medalha é o coroamento de todo trabalho e todo o sacrifício, mas o mais importante é a caminhada, o crescimento e o desenvolvimento das pessoas pelo esporte."
📷 Foto: Arquivo pessoal/Dora Castanheira | Dora nos Jogos Olímpicos de Moscou
Essa experiência não só marcou a vida de Dora, mas também a inspirou a continuar sua jornada no esporte educacional, onde vê a oportunidade de transmitir esses valores e aprendizados para as novas gerações.
Dora diz que enxerga o esporte como "uma poderosa ferramenta de desenvolvimento humano".
Um dos exemplos mais notáveis de como o esporte pode deixar um legado duradouro é o Programa Transforma, parte dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.
O Programa idealizado pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, teve como objetivo a promoção dos Valores Olímpicos e atuou em parceria com escolas, capacitando professores de todas as disciplinas, e realizando ações para professores e alunos.
"Por meio das capacitações esportivas, o Transforma mudou a visão dos professores, fortalecendo o valor educacional do esporte e mostrando as possibilidades de ampliar o cardápio esportivo nas escolas usando material alternativo. O trabalho conjunto com as confederações esportivas, possibilitou criar conteúdo das capacitações onde os instrutores e professores passaram a construir os equipamentos esportivos utilizando material reciclável."
Dora esteve envolvida diretamente no projeto, que teve um impacto profundo nas escolas do Rio de Janeiro e do Brasil. “O esporte paralímpico, por exemplo, mudou a visão das crianças sobre as pessoas com deficiência, promovendo inclusão e apoio”, relata Dora.
De forma intencional, os valores olímpicos saíram de dentro da sala de aula para a comunidade. "Teve uma escola que ia ser fechada e foi resgatada pelo projeto (...) Ela passou a ser um novo espaço de convivência, onde se podia discutir temas relacionados ao esporte como questões éticas, nutrição esportiva, equidade, meio ambiente e histórias de superação".
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O sucesso do Programa Transforma demonstra como o investimento em esporte pode ter um impacto positivo duradouro nas comunidades, criando um ambiente de inclusão e desenvolvimento pessoal para todos.
"As Olimpíadas no Rio aproveitou o esporte como catalisador de mudanças na educação brasileira. (...) Em 2024, os programas Transforma e Impulsiona continuam a prestar apoio pedagógico a mais de 77.000 escolas. Eles trouxeram mudanças comportamentais positivas entre os alunos e levaram ao aumento da atividade física e do número de esportes praticados nas escolas brasileiras".
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“O esporte é uma excelente ferramenta de desenvolvimento humano, mas o papel do professor-educador é fundamental para que esses valores sejam realmente incorporados à vida das crianças”, explica Dora.
Ela destaca que valores como cooperação, respeito e resiliência, vivenciados no ambiente esportivo, são fundamentais para a formação pessoal e social dos jovens, e que esses valores precisam ser intencionalmente desenvolvidos nas atividades esportivas.
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Após se aposentar das competições, Dora se envolveu em projetos esportivos educacionais, em 2020, se viu frente a um novo desafio: incentivar o esporte em meio ao isolamento social.
"O Mais Esporte Paraná surgiu a partir da dificuldade dos professores de educação física em desenvolver suas aulas de forma remota para os alunos que estavam em casa. Por causa da pandemia, os professores tinham muita dificuldade de atrair e motivar as crianças para as aulas virtuais".
Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Campo Largo, “criamos vídeos curtos de exercícios progressivos para que as crianças pudessem praticar em casa, transformando o esporte em uma atividade divertida e acessível mesmo em tempos de isolamento”, explica Dora.
O sucesso desse projeto reforça a importância de iniciativas que mantenham as crianças ativas e envolvidas, mostrando que, com criatividade e empenho, o esporte pode continuar a desempenhar um papel vital na educação e no desenvolvimento humano, mesmo em tempos de crise.
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Atualmente, Dora reside na Espanha, onde atua como árbitra de vôlei. Lá, ela observou na prática que o esporte é uma das formas mais eficazes de combater o sedentarismo e a dependência das telas, principalmente entre os jovens.
“Aqui, o esporte é visto como um meio de socialização e diversão, e essa abordagem tem ajudado a substituir o tempo gasto em telas por atividades físicas e sociais”, comenta Dora.
Participando como árbitra das competições amadoras promovidas pela federação de vôlei, Dora conta ter se encantado com a popularidade do esporte na região:
"Os Jogos Olímpicos de Barcelona produziram o maior legado esportivo dos Jogos de todos os tempos. De fato, aqui todo mundo pratica algum esporte, muito mais que no Brasil: corrida de rua, atletismo, vôlei, handebol, basquete, natação, hóquei, rugby, tênis, ciclismo, surf, e muitas outras modalidades".
Ela reforça que lá, é possível ver a força do esporte como ferramenta social: "nos ginásios sempre vejo as arquibancadas cheias com as famílias e amigos dos jogadores torcendo. As pessoas passam o dia jogando ou assistindo, com certeza, as telas ficam em segundo plano".
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Apesar do potencial do esporte como ferramenta de transformação social, o investimento nessa área ainda é insuficiente.
De acordo com o Censo GIFE 2022-2023, apenas 20% das organizações de Investimento Social Privado no Brasil atuam na categoria Esporte e Lazer. Isso significa que o esporte não tem recebido a atenção necessária para maximizar seu impacto social.
Nos últimos 20 anos, o Brasil investiu R$ 43,4 bilhões no esporte olímpico, mas apenas 15% desse montante veio do setor privado. Isso destaca a necessidade urgente de maior envolvimento das empresas e fundações para garantir que o esporte continue a desempenhar seu papel transformador na sociedade.
O setor privado tem uma oportunidade única de ampliar seu impacto social por meio do esporte. Ao investir em projetos esportivos, as empresas não apenas contribuem para o desenvolvimento social, mas também fortalecem suas próprias marcas, associando-se a valores positivos e ganhando reconhecimento nas comunidades onde atuam.
Programas de investimento social privado voltados para o esporte podem incluir a construção de centros esportivos em áreas carentes, o patrocínio de competições locais, ou o apoio a projetos que utilizam o esporte como ferramenta de educação e inclusão social.
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Além disso, as empresas podem criar parcerias com ONGs e governos para maximizar o alcance e a eficácia dessas iniciativas.
O esporte tem um enorme potencial de transformação social de vidas e comunidades, mas para que isso aconteça em uma escala maior, é essencial que o setor privado aumente seu investimento na área.
O retorno não é apenas social, mas também econômico e reputacional, tornando o investimento em esporte uma decisão estratégica para empresas que desejam contribuir para um futuro mais justo e inclusivo.
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