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Greenwashing: como identificar e evitar práticas enganosas

Última atualização
julho 15, 2025
Escrito por
MGN Consultoria

Falar de sustentabilidade sem colocar ações reais em prática é um risco cada vez maior. O greenwashing é um exemplo claro disso. Mas afinal, o que é greenwashing? 

É uma prática de comunicação enganosa. Empresas divulgam ações sustentáveis que, na verdade, não acontecem ou têm impacto mínimo. Erros de comunicação podem gerar danos à reputação, perda de credibilidade e até sanções legais. Por isso, a transparência em projetos sociais e a coerência nas ações ESG são mais que uma escolha. São uma responsabilidade. 

Confira agora que é greenwashing de uma maneira aprofundada e como não cair em armadilhas de marketing verde. 

O que é greenwashing e por que ele é perigoso

O termo greenwashing surgiu nos anos 1980, nos Estados Unidos. Foi criado pelo ambientalista Jay Westerveld, que criticava hotéis que pediam para os hóspedes reutilizarem toalhas para "salvar o meio ambiente", mas sem adotar outras ações sustentáveis.

Hoje, o conceito se ampliou. Greenwashing é quando empresas usam discurso ambiental e social sem ações concretas. 

Essa prática engana consumidores, investidores e parceiros, e gera riscos legais com base no Código de Defesa do Consumidor, segundo o Ministério da Justiça. E o problema vai além da lei: greenwashing quebra a confiança de stakeholders e pode ter impactos financeiros. Empresas perdem contratos, clientes e valor de mercado quando expostas por práticas enganosas.

A diferença entre um marketing legítimo de ESG e o greenwashing está na coerência entre discurso e prática.

Exemplos reais de greenwashing no Brasil e no mundo

Entender os exemplos de greenwashing ajuda a evitar erros. A seguir, alguns exemplos que ganharam repercussão e servem de alerta:

H&M: Moda sustentável questionável (Internacional)

A gigante da moda lançou a linha "Conscious Collection", promovida como sustentável. No entanto, investigações da Norwegian Consumer Authority (NCA) mostraram falta de dados claros sobre a origem dos materiais e o real impacto ambiental da produção. Como já era de se esperar, a falta de transparência gerou críticas globais.

Volkswagen – Caso Dieselgate (Internacional)

Em 2015, a Volkswagen foi acusada de manipular testes de emissão de poluentes em seus carros a diesel. A empresa divulgava campanhas com foco em eficiência e respeito ambiental, enquanto escondia o uso de softwares que fraudavam os resultados. O escândalo gerou multas bilionárias e um forte abalo na reputação da marca.

Petrobras – Comunicação ambiental x prática real (Brasil)

Em 2021, a Petrobras enfrentou críticas por campanhas de marketing verde. A empresa destacava projetos ambientais e de energia renovável, mas, ao mesmo tempo, mantinha alto investimento na exploração de combustíveis fósseis. A incoerência gerou questionamentos sobre a real prioridade da sustentabilidade dentro da companhia.

Esses casos mostram como o greenwashing pode gerar danos à reputação e à credibilidade de empresas. Aqui, o aprendizado é claro: a coerência entre discurso e prática ESG é essencial para proteger a imagem da empresa e garantir a confiança de parceiros e beneficiários.

Como evitar greenwashing em projetos sociais e ESG

É possível adotar medidas claras e práticas para proteger sua marca dessas armadilhas. O caminho passa por planejamento estratégico, transparência na comunicação e validação contínua das ações.

1. Mensure o impacto real das ações

A primeira etapa é sair do discurso e trabalhar com dados concretos. É preciso definir indicadores ESG alinhados aos temas materiais da organização. Isso significa priorizar os impactos que realmente importam para os públicos atendidos e para os investidores sociais.

Por exemplo: se o projeto social atua em educação, os indicadores devem medir taxa de permanência escolar, avanços na aprendizagem ou número de beneficiários com acesso a novas oportunidades.

Ferramentas como matriz de materialidade e KPIs sociais ajudam a direcionar as ações e evitar exageros na comunicação.

Saiba mais: Temas materiais no ESG

2. Estabeleça uma governança clara

Ter uma estrutura interna que revise e valide todas as ações antes de divulgá-las é essencial. Isso inclui criar comitês de ESG ou grupos de governança social, com representantes de diferentes áreas. Esse processo ajuda a avaliar se a comunicação reflete a realidade e se existem riscos de mensagens enganosas.

Um exemplo prático: antes de divulgar o número de pessoas beneficiadas por um programa, o comitê deve validar se o dado está correto, se houve impacto mensurável e se os indicadores de avaliação foram claros.

3. Valide com auditorias externas

Buscar validações independentes é uma forma de dar mais credibilidade às ações. Certificações como GRI (Global Reporting Initiative) e SASB (Sustainability Accounting Standards Board) oferecem diretrizes reconhecidas mundialmente para relatórios ESG.

Além disso, é possível contratar auditorias externas para revisar os resultados divulgados. Organizações que passam por esse tipo de avaliação mostram ao mercado que levam a sério o compromisso com a verdade.

4. Comunicação ética sempre

A comunicação ESG precisa ser honesta, equilibrada e baseada em fatos. Por isso, é importante evitar exageros ou promessas não sustentadas por dados.

Também é importante não esconder impactos negativos. Se um projeto teve resultados limitados ou enfrentou dificuldades, vale compartilhar os aprendizados e as estratégias de melhoria.

Exemplo de boa prática: organizações que divulgam seus desafios de implementação junto com os resultados mostram maturidade e compromisso com a melhoria contínua.

5. Faça relatórios ESG transparentes

Os relatórios ESG devem apresentar resultados reais, com indicadores claros, metas futuras e o plano de ação para alcançar esses objetivos. Pode-se estruturar os relatórios com seções que incluam:

  • Avanços conquistados;
  • Lições aprendidas;
  • Metas de curto, médio e longo prazo;
  • Processos de governança e auditoria.

Por exemplo, o Relatório de Sustentabilidade da Natura é um modelo de como tratar avanços e desafios de forma equilibrada. Além de fortalecer a reputação da organização, relatórios bem feitos facilitam o engajamento de investidores e financiadores sociais.

Ferramentas para garantir transparência e consistência na comunicação

Uma comunicação ESG responsável e eficaz vai além de boas intenções. Exige o uso de ferramentas reconhecidas internacionalmente, que ajudem a medir, validar e apresentar os impactos de forma transparente. Conheça alguns frameworks e metodologias para estruturar melhor suas iniciativas:

GRI (Global Reporting Initiative)

A GRI é um dos principais modelos globais para elaboração de relatórios de sustentabilidade. Ela oferece um conjunto de padrões internacionalmente aceitos para divulgar informações sobre impacto ambiental, social e de governança.

Ao adotar a GRI, a empresa garante que os relatórios tragam:

  • indicadores de desempenho claros e comparáveis;
  • transparência sobre impactos positivos e negativos;
  • dados sobre práticas ambientais, direitos humanos, relações de trabalho e combate à corrupção.

Empresas como Natura e Braskem utilizam o GRI para suas publicações de sustentabilidade.

SASB (Sustainability Accounting Standards Board)

Enquanto a GRI foca em um público mais amplo, a SASB é orientada para investidores e prioriza informações financeiras e não financeiras relevantes para o setor de atuação da empresa. Por exemplo:

  • Uma empresa do setor de energia precisa relatar indicadores ligados a emissões de gases e uso de recursos naturais;
  • Uma instituição financeira deve focar em inclusão social, ética corporativa e riscos climáticos no portfólio de investimentos.

Muitas multinacionais já utilizam os padrões SASB para reportar aos investidores.

ODS da ONU (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)

Os ODS são um referencial importante para alinhar projetos sociais e ambientais a uma agenda global de desenvolvimento sustentável. São 17 objetivos que abordam desde erradicação da pobreza até ação climática.

É possível usar os ODS como guia para demonstrar como os projetos da organização contribuem para metas globais, criando uma conexão clara entre a atuação local e o impacto global.

Exemplo prático: se o projeto foca em educação, pode alinhar as ações ao ODS 4 – Educação de Qualidade.

Auditorias externas

Além dos frameworks de reporte, a validação por auditorias externas é uma medida importante para aumentar a confiabilidade das informações. Auditorias independentes podem avaliar:

  • A precisão dos dados apresentados nos relatórios ESG;
  • A aderência às normas internacionais (GRI, SASB, TCFD, entre outras);
  • A consistência entre o que é comunicado e o que é efetivamente praticado.

Empresas listadas na bolsa, como a Ambev, frequentemente submetem seus relatórios ESG a auditorias externas para garantir mais credibilidade junto a investidores e à sociedade.

Coerência entre canais: a importância de uma narrativa integrada

Além da mensuração e validação dos resultados, os líderes devem garantir que todos os canais de comunicação da organização contem a mesma história. Isso inclui:

  1. Site institucional: com relatórios, cases, e políticas ESG atualizadas.
  2. Redes sociais: divulgando ações de forma responsável, sem sensacionalismo ou greenwashing.
  3. Relatórios e documentos oficiais: com dados técnicos, metas e indicadores claros.
  4. Participação em eventos e entrevistas: para reforçar o mesmo posicionamento público.

Exemplo de boa prática: o Banco Santander Brasil mantém coerência entre seu site de sustentabilidade, seus relatórios anuais e suas ações divulgadas em redes sociais, reforçando o compromisso com suas metas ESG.

Ao combinar ferramentas de mensuração, auditorias externas e uma estratégia de comunicação integrada, as empresas conseguem construir uma reputação ESG sólida, transparente e livre de riscos de greenwashing.

Saiba como estruturar melhor: Consultoria em ESG – Como funciona

O papel do líder de impacto na prevenção ao greenwashing

Líderes têm um papel central na construção de uma cultura organizacional ética e responsável. Evitar o greenwashing não é apenas uma tarefa do departamento de comunicação ou do time de sustentabilidade. Cabe ao líder de impacto garantir que toda a organização esteja alinhada a princípios de transparência, verdade e responsabilidade social.

  • Liderança ética e transparente: ser uma liderança ética significa defender a verdade nos dados, nas campanhas e nas ações internas, mesmo quando os resultados ainda não são os ideais. Os líderes precisam criar um ambiente onde os times não sintam pressão para "maquiar" resultados ou omitir informações negativas.
  • Capacitação da equipe e da cadeia de parceiros: para evitar erros de comunicação, é fundamental educar os colaboradores e fornecedores sobre o que é greenwashing, como reportar resultados de forma ética e como interpretar os indicadores ESG corretamente. Boas práticas incluem realizar workshops periódicos sobre comunicação responsável e incluir critérios ESG nos contratos com fornecedores, reforçando o compromisso ético em toda a cadeia.
  • Diálogo aberto com stakeholders: outro papel fundamental do líder de impacto é promover espaços de escuta com stakeholders: comunidades locais, ONGs, investidores, colaboradores e clientes. Esses diálogos ajudam a: identificar pontos de incoerência na comunicação, receber críticas construtivas antes que a imagem da empresa seja prejudicada e ajustar estratégias com base em feedback real.
  • Inclusão e participação da comunidade: líderes devem ir além da comunicação corporativa e envolver as comunidades beneficiadas na construção das ações sociais ou ambientais. Por exemplo, o projeto "Todos Pela Água" da Fundação Renova, criado após o desastre de Mariana (MG), só ganhou credibilidade quando passou a incluir representantes das comunidades afetadas nas decisões sobre as ações de reparação ambiental.
  • Formação contínua do líder ESG: o mundo ESG evolui constantemente. Por isso, a formação contínua é um pilar essencial para uma liderança de impacto. Líderes podem participar de fóruns como o Ethos 360º, que discute integridade e sustentabilidade nas empresas, de capacitações do CDP (Carbon Disclosure Project) e da GRI Academy e de redes de aprendizagem como a Rede Brasil do Pacto Global da ONU.
  • Liderar pelo exemplo: por fim, um dos maiores ativos que as lideranças têm é o exemplo. Líderes que vivem os valores que pregam inspiram a equipe a fazer o mesmo. Isso inclui: compartilhar aprendizados de erros e acertos, reconhecer os desafios de ser 100% sustentável (mas mostrar o compromisso com o progresso contínuo) e defender a integridade mesmo sob pressão por resultados rápidos.

 Ao adotar essa postura proativa, os líderes não apenas previnem o greenwashing, mas também fortalecem a reputação da organização e constroem confiança com todos os públicos.

Greenwashing: um risco real e crescente

Combater o greenwashing é um dever de quem trabalha com impacto social e sustentabilidade. As lideranças têm o poder de transformar a forma como a sociedade percebe as ações ESG. Além disso, a comunicação transparente fortalece a marca, atrai parceiros e gera confiança.

Você, líder: assuma um papel ativo. Defenda a autenticidade em cada ação socioambiental. Baixe agora o nosso material: Guia do Comitê de Voluntariado Estratégico e dê o próximo passo para liderar com responsabilidade e gerar impacto verdadeiro.

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